sábado, 2 de abril de 2011

O despertador


Todos os dias, na correria que fazemos para viver, temos um aliado. Certamente que por vezes torna nosso pior inimigo. Num cotidiano exaustivo, sempre se busca dormir um pouquinho mais, aproveitar melhor o tempo para descansar o corpo e a mente de tanta correria. Então, temos nossos compromissos diários, e quando eles são pela manhã, temos a obrigação de cumpri-lo. Assim, entra o despertador em cena.
Desde que inventaram essa forma tão eficiente de caracterizar o relógio em tic tac, tic tac, usa-se eles nas mais diversas situações, talvez hoje nem se escute mais o tic tac como antigamente, pois os celulares fazem esse papel multifuncional de além de nos colocar em comunicação com o outro, nos acorda, nos alerta, nos condiciona, nos obriga carrega-lo para cima e para baixo. O relógio é um acessório estético atualmente.
Mas enfim, podemos não ouvir mais o tic tac dos relógios despertadores, mas ainda assim temos algo que nos desperte do mais intenso sono, que interrompe os mais belos sonhos, e nos tira do conforto das cobertas.
O melhor é quando num ato de querer aproveitar mais o sono, coloca-se despertar alguns minutos antes, para ter o prazer de ficar no aconchego das cobertas mais um pouco, os relógios despertadores tinham aquele barulho, que no sono, começava a ser ouvido suavemente, como se fizesse parte de um sonho, mas começa a aumentar de tal forma, que quando nos damos conta é hora de sair da cama. E naqueles dias frios, como é infernal escutar aquele “barulhinho” que me falta palavras pra explicar, é quase que um tempo musical de 4/4, mais ou menos isso.
Não somente nos avisa que é hora de acordar, que mais um dia se inicia, e a vida deve continuar que os despertadores muitas vezes nos fazem sofrer. Aqueles dias excepcionais que devemos acordar mais cedo que o habitual, para ir a algum lugar, fazer alguma viagem, dias que nos obrigam a colocar o relógio despertar mais cedo. Então, começa o martírio, com um medo quase que inexplicável, parece que a qualquer momento ele vai despertar assim fica-se naquele clima de tensão a noite toda, e olha para o despertador e percebe que pode dormir mais um pouco, mas a angustia de não acordar na hora certa é tamanha, que logo em seguida olha-se o relógio de novo. Como é ousado esse tempo, quando mais nos angustiamos, mas ele demora a passar. A noite se torna um grande acumulo de inquietações, a espera pelo despertar. Despertando-nos para o incerto, para o insucesso, porque horas perdidas de sonho não se recuperam de modo fácil. Mas por fim, dormimos, e em cinco minutos ele avisa, acorda, acorda, chegou sua hora de levantar. E com uma raiva imensa pensamos: dormi tão mau, tão pouco, parece que só fechei os olhos e a hora passou. Nada disso, as horas passaram sim, mas quem não soube aproveitar para dormir? O despertador é britanicamente pontual, quem escolhe a hora para ele despertar pode não ser.
O que é certo é que quando um relógio começa a alarmar que está na nossa hora, isso nos dá uma sensação de ter despertado para dor, para o ardor, para o pavor de ter que sair às pressas, mal humorado apenas querendo esquecer que com esse despertar mais um dia estará para acontecer, e acabar e se renovar, e tudo voltar a despertar.
Um despertar para dor, um despertar para a vida, com suas horas contadas, momentos contados, sonhos cortados, e por fim dias cansados. Parece que tudo se limitou ao tempo, o tempo que tentamos não ver passar, mas que passa sem nosso consentimento. Como aproveitar o tempo? 

Autor: Clenio Lopes

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