quinta-feira, 31 de março de 2011

Lirismo da Galinha

Ao pensar sobre a vida ao nosso redor, sabe-se da existência de variadas espécies de seres vivos, digamos. Cientificamente sabe-se que o esperma como um subnúcleo masculino, deve fecundar um óvulo o subnúcleo feminino, para que após esse processo, mais um ser vivo venha habitar o universo. Seja ele humano ou animal.
            É bastante complexo esse processo todo de genética, mas não é intenção entende-lo aqui.  O que parece tão insignificante para uma sociedade aliada as máscaras sociais, são instigantes para aqueles que se permitem ver o mundo com um mínimo de sensibilidade. Uma vida que ao nascer parece tão cheia de luz, que às vezes se torna sublime em seu mais simples ser. Seria como um chocar para vida, esse chocar é o que nos tornam seres humanos, seres vivos, seres do universo.
            Importante para saber como em nossa particularidade, o fato de nascermos da mesma forma que qualquer tipo de ser vivo, nos qualifica como animais, muitos negam evidentemente.
            Porém, esse negar nada mais é do próprio instinto animal. Ser humano é estar sempre em contradição consigo mesmo. Na caminhada de um ser que ao chocar-se para o mundo, e já nos primeiros momentos de sua existência, tem um caminho definido. Já no inicio a um interesse ambíguo em relação à vida e morte. Claro que ao levar em conta um sistema natural da cadeia alimentar, fato é que, muitos seres nascem para ser digeridos, porque comidos todos somos pela nossa capacidade distinta de invejar.
            Enfim, a galinha é um desses seres, que apenas é olhada como um belo prato do nosso cotidiano. Uma galinha, um animal, um ser vivo, seja como qualificar ela será  sempre vista como um alimento a mais no cardápio. Não condeno nada, estou apenas a refletir sobre uma vida limitada e fadada ao prato. Até então nunca havia pensado, que uma vida pudesse ser tão massificada pelo homem, levando em conta o processo de cadeia alimentar, fica-se claro da suposta necessidade de alimentar-se dela. Os primitivos já faziam isso sem concessões.
            Algo que chama atenção é o jeito hábil que elas são carregadas de um lado para outro. Imagina quando alguém esta dentro de um ônibus, onde a capacidade de lotação, já esta escassa. Cada centímetro é disputado por iguais. Todos têm um destino, ir para casa, para escola, para a universidade ou passear. O dia está muito quente, todos suando, falando, gritando, reclamando... Seria tão desagradável, mas chegariam em seu destino. Ao transportar uma galinha, isso jamais ocorre. Pois elas são simplesmente jogadas em caixas de plásticos, amontoadas umas em cima das outras, machucadas, abusadas. Roubam sua liberdade, e a morte apenas é uma rotina. Se estiverem a sentir algo ou não, ninguém se importa, estão ali, com seus olhares assustados, inocentes, graciosas e puras. Seja num sol quente, em um dia chuvoso, ou frio, lá vão elas, em seu silencio fúnebre, nefasto, ingrato.
            Há! Lembram delas sim, para dizer, que seu cheiro incomoda, que passar por elas é nojento. Come-las não é, mas dividir o asfalto sim. Tudo tão incoerente. Diante da solidão em que dividem seu espaço, apenas exalam um cheiro desagradável, e assim esperam seu fim. E diferente dos humanos, não escolhem onde querem parar, porque seus destinos foram dados ainda quando eram ovos. Esse sentimento que encobre a prepotência do ser vivo, que racionaliza, e assim, está em outra esfera, esta no topo dos animais, porque mesmo com esses sentimentos em relação aos menos “celebrados”, digamos assim, são animais também. E se não tomassem seus banhos diários ou freqüentes, também exalariam cheiros desagradáveis.
            Mas, a galinha é um animal inferior. Pensando ainda, em seus meios de transportes, eficientes e confortáveis, estou falando da galinha certamente, elas emitem sons, se comunicam entre si. Como os animais superiores, que também emitem sons para se comunicar em seus meios de transportes inadequados, desconfortáveis e que nem deixam eles na frente de casa, que atrasam as vezes. Esperam muito para chegar em casa, mas isso é o que menos importa, porque as galinhas chegam sempre na porta dos seus matadouros.
            A morte é tão certa para ambas às espécies, os assassinatos uma constante em nossa vida, que decidir tirar a vida de milhares de galinha, é uma necessidade fundamental, senão haveria uma super população delas. Até em relação ao transito, seria caótico o engarrafamento de transportes de galinhas.
            Não sei qual tipo de entendimento terá esse texto, só olhei para galinha como uma igual, mesmo sabendo que as chacotas se fazem presentes, até porque, quem vai ler isso não são as galinhas, e sim seres mais evoluídos que elas, mas que também são animais. Que por sua vez, são apenados em seu mundo de caixas não plásticas mas imaginárias, e que impedem de olhar para além de seu umbigo, e não sei o que vêem de interessante, nem quero descobrir, dessa incerteza, prefiro ter a clareza que no almoço servirão-se de uma bela coxa de galinha, bem temperada, senão, o cheiro real delas não permitiria serem degustadas, saboreadas, logo após serem sacrificadas, assustadas, humilhadas, roubadas e assassinadas. Percebi que na galinha há tanto lirismo, tanta poética, mesmo, no prato do jantar. Boa galinhada.

Autor: Clenio Lopes

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